Autoestima ou autocompaixão?

Falamos muito sobre autoestima: o valor que damos a nós mesmos. Há pessoas com uma boa autoestima, outras com uma autoestima exagerada e outras com baixa autoestima. No entanto, você já reparou que ultimamente a ênfase dada à maneira como nos percebemos tem sido muito vinculada ao narcisismo, ou seja, a uma supervalorização do eu?

 

Não é à toa que muitos livros de autoajuda que falam sobre autoestima repetem constantemente a ideia de que “você pode!”, “você é mais!”, “você consegue!”, “o que importa é você!”, etc. É como se tivéssemos que ser/estar sempre acima da média ou nos sentir sempre melhor do que os outros para ter autoestima, e como se isso nos trouxesse verdadeira felicidade e saúde emocional. “Me sentir mais inteligente, mais bonita, mais interessante, mais capaz …”

 

No entanto, o que temos visto com frequência são pessoas ansiosas, tensas ou deprimidas sofrendo por se exigirem o tempo todo de que precisam ser mais seguras, mais inteligentes, mais bonitas, mais ricas, em prol do “desenvolvimento da autoestima”. É como se a gente tivesse que ficar se criticando o tempo todo para nos motivarmos a crescer. Mas, será que a gente precisa disso mesmo? Será que o foco total da vida precisa mesmo ser em nossas próprias necessidades e desejos? Será que temos realmente que nos superar sempre e não encarar o fato de que temos, sim, alguns limites pessoais? Não estou dizendo que devemos nos deixar pra lá e esquecermos que existimos e se contentar com todas as nossas fraquezas ou dificuldades, mas até que ponto a necessidade de nos sentirmos sempre bem com a gente mesmo não acaba sendo pesado demais em um mundo em que inevitavelmente e frequentemente poderemos sofrer altos e baixos?

 

Ultimamente tem-se falado muito sobre autocompaixão em vez de autoestima, já que este último conceito tem se vinculado muito com as questões narcisistas. A diferença de autocompaixão para autoestima é que o foco da autocompaixão não é você ter que se sentir bem o tempo todo com você, mas aceitar que em alguns momentos, você não vai se sentir bem mesmo, e que talvez você não seja sempre toda aquela maravilha de pessoa, que talvez não seja capaz mesmo de fazer tudo e da melhor maneira, e que aquilo de bom que você tem não necessariamente venha sempre de você, e entender que está ok em isso tudo acontecer. (Cuidado, apenas, para não confundir autocompaixão com autopiedade, que é sentir pena de si mesmo e se colocar como vítima com frequência!).

 

Muitas vezes nos cobramos tanto quanto a termos que ter autoestima que acabamos nos maltratando com tanta autoexigência. Será que não seria mais leve e mais acolhedor se pudéssemos:

 

  1. Ser mais amigos de nós mesmos em nossos momentos pessoais difíceis, em vez de nos cobrarmos de que sempre temos que nos dar bem e sermos capazes? Quem sabe um diálogo com você mesmo como: “Tudo bem você não estar dando conta desse acontecimento. É difícil mesmo. Você precisa de um abraço. Compreendo você!”, em vez de: “Reaja! Você vai conseguir! Tem que dar conta! O que vão pensar de você! Tenha autoestima!!!” não seria mais apropriado?

 

  1. Conseguir olhar o que temos de semelhante com outras pessoas (e que são igualmente imperfeitas) não poderia ser mais acolhedor e humano do que alimentar constantemente o pensamento de que somos (ou precisamos ser) diferentes dos outros porque somos (ou precisamos ser) melhores do que eles?

 

  1. Ter consciência de como estamos nos sentindo e sermos empáticos conosco em vez de nos cobrarmos de que temos sempre que nos sentir bem, felizes, realizados e capazes?

 

Quem sabe isto possa ajudar você a ter mais autoestima….ooops, autocompaixão.

 

 

Escrito por Thais Souza, psicóloga e pós-graduada em aconselhamento familiar.

http://www.psicologiaemcasa.com.br

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