Anorexia glamourizada

Quantas pessoas você acha que curtiriam uma foto postada por uma amiga em uma rede social que mostrasse sua barriga ou suas pernas super magras a ponto de os ossos ficarem salientes, tendo ela acrescentado à foto uma postagem como “quanto mais magra, melhor”, ou “keep calm e não coma”, ou “campanha barriga negativa” ou “seu estômago não está roncando, está aplaudindo”?

Algumas pessoas são naturalmente magras pela própria estrutura física, independente de comer mais ou menos. No entanto, outras, e geralmente mulheres, possuem como objetivo de vida se tornarem mais magras do que sua estrutura física pode suportar e podem ser vítimas da anorexia.

Anorexia é um transtorno alimentar que acomete principalmente mulheres, começando desde meninas de 10 anos de idade, e que possui como característica uma preocupação exagerada com o peso e uma distorção da imagem corporal que faz com que a pessoa se enxergue obesa apesar de estar magra, e isto faz com que ela pare de comer ou faça jejuns muito prolongados e freqüentes ou dietas muito rigorosas, geralmente acompanhadas do uso de laxantes e diuréticos, e desenvolva comportamentos compulsivos e exagerados para a perda do peso como passar horas na academia. As pessoas anoréticas podem também desenvolver o comportamento da indução do vômito após qualquer refeição que façam e que julguem ter excedido à quantidade limitadíssima de calorias estipulada por dia (ela pode achar, por exemplo, que comer um tomate seja um excesso e induzir o vômito). Portanto, é um transtorno alimentar bastante grave por causa das sérias consequências físicas possíveis de serem desenvolvidas como insuficiência renal e o surgimento de várias infecções devido à queda da imunidade do corpo. Cerca de 15 a 20% dos jovens com anorexia morrem. O índice é muito alto devido a alguns fatores: o pouco conhecimento dos familiares sobre a doença e, portanto, dificuldade em reconhecer que ele requer tratamento, e a falta de percepção da própria pessoa anorética quanto à sua condição de saúde (ou negação dela). Geralmente são pessoas que buscam na magreza extrema uma maneira de se distanciar de seus problemas e angústias colocando como objetivo de suas vidas se encaixarem em padrões absurdos de “beleza”.

E o que está acontecendo hoje é uma glamourização da anorexia. Por causa da elevada valorização do corpo magro como padrão de beleza, alguns movimentos pró-anorexia tem sido compartilhados na internet, principalmente nas redes sociais: postagens de fotos de meninas esqueléticas que se acham bonitas com essa magreza e até mesmo blogs que ensinam a pessoa que deseja ser magra a como ser anorética, como esconder o problema da família e como ficar sem comer durante muito tempo. A anorexia acaba sendo entendida como se fosse um meio para alcançar um objetivo, e não como uma doença. E, no costume de sairmos “curtindo” as fotos postadas de nossos amigos e amigas, a “curtição” de fotos de amigas anoréticas acaba fazendo com que a pessoa anorética interprete as “curtidas” ou os “likes” como um incentivo à sua atitude, e o problema mental passa a ser interpretado como normal e bom, sendo que é tão perigoso podendo levar à morte. Então, preste atenção no que você está “curtindo” e incentivando através de suas “curtidas” na internet.

E como alguém pode identificar que um familiar esteja passando por isso? É importante reparar o seguinte:

  1. Se a pessoa se isola e geralmente evita situações em que tenha que comer (refeições em família).
  2. Se há perda de peso acentuada e contínua.
  3. Se você observa dietas muito restritivas e horas de exercícios físicos exageradas.
  4. Se você descobre checagem de peso constante e uso de laxantes e diuréticos.
  5. E se a pessoa utiliza frases que sugerem estar acima do peso, mesmo estando abaixo.

Se perceber e a pessoa negar que precisa de ajuda, o papel do familiar é levar o paciente a uma consulta médica e, dependendo do resultado, já interná-lo. E, a intervenção a longo prazo deverá contar com a ajuda de médicos para checarem a saúde física; psicólogos, para o tratamento da distorção de pensamentos; e de nutricionistas para o estabelecimento de uma dieta equilibrada. A participação da família é fundamental.

Escrito por Thais Souza, psicóloga clínica, pós-graduada em aconselhamento familiar.

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